Sankofia

Esta obra é realidade através do apoio de cadapessoa à sua existência.

AFROFUTURISMO

Desde a antiguidade, os povos negros africanose suas inúmeras diásporas sempre demonstraramatravés de levantes estarem prontas para imaginar eviver futuros onde suas pátrias, descendências,culturas e vidas seriam livres de qualquer tipo deopressão. E é esta certeza, a de merecer um futuroque vai levar a população africana e afrodiaspórica,aonde quer que esteja a pensar o Futurismo Negro,tanto de modo histórico exigindo direitos e dignidadeatravés de pessoas reais como, por exemplo, MartinLuther King, Mandela ou Aqualtune, quanto deforma ficcional contemplando realidades alternativasonde liberdade e existência são necessidadesbásicas conquistadas frente a uma linha do tempohistórica cheia de entraves à estes princípiosbásicos, e insegura à sua presença no presente eprincipalmente no futuro.

Esse ímpeto deve ter sido o combustível que fezMartin Delany, um dos principais líderes políticosnegros dos EUA (1859) escrever e publicar naAnglo-African Magazine, Blake, or the Huts ofAmerica (Blake, ou Cabanas da América) cujo temaé uma revolta de escravos bem-sucedida nosestados do sul e a fundação de um país negro emCuba. Mas teria ele sido inspirado por Nat Turnerque décadas antes (1831) conclamou uma rebeliãoque aterrorizou os escravistas na Virginia? Ouestaria ele desejando ardentemente, através de umavisão alternativa, a liberdade plena finalmentealcançada em 1863 com a vitória do norte na guerracivil? Eis um exemplo onde ficção e realidadeconectam passado, presente e futuro, o pulsantepropósito do Afrofuturismo.

O termo Afrofuturismo nasceu no campo daficção científica, sendo utilizado a primeira vez peloescritor branco Mark Dery em Black to the Future,num ensaio e depois num capítulo do livro FlameWars: The Discourse of Cyberculture (1994),onde busca compreender através de entrevistascom Samuel R. Delany, Greg Tate e Tricia Rose, apequena presença de escritores afroamericanos naficção científica oficial americana, a mainstream(palavra sem tradução) que apresenta no termo,neste caso, um ideário de poderio, sobreposiçãodominante, uma teia discursiva que mantém ohomem branco, heteronormativo, falsamente comoum ser legitimante de seu próprio discurso e até danoção de humanidade, refutando qualquer outrapresença ou representatividade que não oreconheça como universal, ou seja, mainstream.

Posso dizer que foi uma experiência estranha, aceitarum prêmio [Nébula, 1968] em uma sala cheia depessoas com smoking e vestidos de noite e então,deste mesmo lugar onde o aceitei, ouvir umarepreensão de meia hora de uma eminência, quedeclara que este prémio é imerecido e para aspessoas que o elegeram um grupo de estúpidosincautos. Não é paranoia, contei mais de uma dúziade pares de olhos passeando entre o falante e euque continuou com a trivialidade de obrasgratificantes como a minha e a tolice dos mais decem escritores que votaram nela. (DELANY, 2011,tradução livre)

A partir desta realidade experimentada tanto porSamuel R. Delany em 1968 quanto por N. K. Jemisinem igual teor ou pior em 2016/2017 é possível sentirque a política de invisibilidade é muito atual e quetrocar a realidade dos dois entre os tempos em nadaafetaria o que sofreram.

Desdobramentos no tempo

Logo, podemos dizer que a nomenclaturaafrofuturismo se popularizou ao retroceder notempo, reforçando e abraçando o Futurismo Negrodesde seus primórdios amplos à sua efervescênciaatual, não apenas no campo da literatura, mas damúsica, filmografia, artes, enfim… todo o espaçoocupado por uma mente negra reescrevendo ofuturo com a sua presença.

Ao adentrar neste movimento que se tornamundial e investigar sua base filosófica, sustentadapor referenciais muito anteriores ao termo, é possívelcaptar em suas reorganizações, tanto de ideiasquanto de conceitos e estética, as basesepistemológicas do Afrocentrismo, pensamento queganhou corpo teórico em 1980 através dopesquisador afroamericano Molefi Kete Asante, queo define da seguinte forma:

Afrocentricidade é um modo de pensamento e açãono qual a centralidade dos interesses, valores eperspectivas africanas [negras] predominam. Emtermos teóricos é a colocação do povo africano[África e diásporas] no centro de qualquer análise defenômenos africanos. Assim é possível que qualquerum seja mestre na disciplina de encontrar o lugar dosafricanos num dado fenômeno. Em termos de ação ecomportamento, é a aceitação/observância da ideiade que tudo o que de melhor serve a consciênciaafricana se encontra no cerne do comportamentoético. Finalmente, a Afrocentricidade procuraconsagrar a ideia de que a negritude em si é umtropo de éticas. Assim, ser negro é estar contra todasas formas de opressão, racismo, classismo,homofobia, patriarcalismo, abuso infantil, pedofilia edominação racial branca. (ASANTE, 2014, p. 3)

O pensamento afrocêntrico desafia a pessoanegra a nascer de novo, reconhecendo que suaexistência no mundo é um acúmulo de signoseurocentristas que não a referenciam ou respeitam,pelo contrário, a inferiorizam-na e deslegitimamenquanto sujeita capaz de ter voz, consciência eprodução.

Jemisin gostava de ficção científica e fantasiaquando era criança. Mas ela não escrevia sobrepersonagens negros ou femininos antes de tropeçarcom Octavia Butler ainda adolescente. Ao ler, eu[Jemisin] disse:”Caramba, acho que essa mulher énegra. Procurei uma foto, e não havia nenhuma. Emvez disso, a capa do livro estava rebocada com aimagem de uma mulher branca. Deixei a foto de lado”– foi um momento de iluminação para Jemisin. “Eununca tinha visto isso em sci-fi [science fiction] antes”,afirmou. Ela nunca havia pensado que uma liderançapoderia ser outra coisa senão um homem branco.(WOMACK, 2013, p. 96, tradução livre)

Já dentro do gênero ficção científica temos bonsexemplos do que significa refazer caminhos e visões:

A mudança da terminação “punk” para “funk” é outroelemento importante, pois sai da dinâmica de umrock “branco” para um soul negro. A lógica funk tema ver com a experiência de uma pessoa negra: aexperimentação sensorial; pessoa chave damudança, relendo a escravidão, relendo osproblemas urbanos passados – presentes – futuros.É como se o som funk, o letrismo do hip-hop, osatabaques africanos, os tambores afrocubanosbatá, as cuícas brasileiras e os remixes da mesade som encontrassem uma harmonia ecoexistissem ajudando a contar histórias.Novas concepções de subgêneros: Dieselfunk;Cyberfunk; Rococoa; Steamfunk; Sword & Soul;Blaxploitation; Blackstatic; Alternate History.

Nesse sentido é certo afirmar que a concepçãode raça [ler Kabengele Munanga e Carlos Moore]como uma tecnologia, dentro do Afrofuturismo esob preceitos distinguíveis do sistema racista, podee deve ser considerada num âmbito maior destemovimento político-ideológico e estético como umartefato maior de poder, que bem sustentado earticulado tem a capacidade de plantarquestionamentos na psique da população negra quevive sob projetos de vida e nação racialmentedesfavoráveis.

Desta forma, podemos concluir que oAfrofuturismo é uma metáfora afrocentradarealista sobre o verdadeiro reflexo de uma pessoanegra, que precisa experimentar o seu euenegrecido em essência, seja como escritor ouescritora, leitor ou leitora, compreendendo que épossível e mais do que justo, que protagonize o seudestino ou que crie mundos onde heróis de heroínasde face negra sejam sujeitos da narrativa.

Referências Bibliográficas

MOORE, Carlos (2007): Racismo & sociedade:novas bases epistemológicas para entender oracismo. Belo Horizonte: Mazza Edições.

CARNEIRO, Aparecida Sueli (2005): A construçãodo outro como não ser como fundamento do ser.Tese (doutorado). São Paulo: Universidade de SãoPaulo.

WOMACK, Ytasha (2013): Afrofuturism. The Worldof Black Sci-Fi and Fantasy Culture.EUA: LawrenceHill Books.

DELANY, Samuel (2011): “RUNES SANGUINIS /Racismo y Ciencia Ficción”. Em: NYRSF – The NewYork Review of Science Fiction (1998) e integrantede Dark Matter: A Century of Speculative Fictionfrom the African Diaspora (2000).ASANTE, Molefi Kete. Afrocentricidade: A Teoria DaMudança Social (1980).

 TIMBUKTU – MALI – ÁFRICA

SANKOFIA

Sankofia é uma ideia que resolvi criar parabatizar meus pensamentos expostos em forma deliteratura neste livro, mas que poderia levar emconceito para um artigo ou uma conversa, ou seja,estou construindo pontes para os pensamentos quequero expor às pessoas, sabendo que daqui pordiante, ao fazer uma avaliação de minhas palavras,escritos, o farão sobre conceitos que fazem jus àminha ideologia em construção.

Logo, posso dizer que a palavra – Sankofia – éuma definição que encontra proximidade com a ideiade utopia, mas ao contrário deste termo, pode edeve ser alcançada já que tem a ver com umanecessidade de estabelecer a presença negra naesfera literária por nossas mãos, porém não semconsciência e muito menos sem a ideia depreservação de uma história, um legado, ou seja,não estou falando de algo que vai acontecer e quevai, se manter de forma etérea na consciência, muitopelo contrário, o cerne é a eterna vigilância dalembrança e uma intenção coletiva de preservação,até de quem se é. E sendo assim, um renascimentosankofico (pronúncia: sancôfico) é se reinventar, érever sobre uma identidade afrocentrada.

Sankofico/sankofica: derivada da palavra-provérbioafricano Sankofa (escrita ideográfica Adinkra) quesignifica “Nunca é tarde para voltar e apanhar o queficou para atrás”. Sendo assim, o termo pode servisto como uma analogia léxica que comtempla umanoção de resgate estrutural de intelectualidadeafrocentrada, e também, um exemplo em si daconstrução de um modo de pesar e expressar suaraiz africana em meio à cultura ocidental em que estáinserido, na qual sua base ancestral édesconsiderada em termos plenos de identidade (LuAin-Zaila, conceito elaborado durante meus estudossobre Afrofuturismo e Afrocentricidade no final de2017)Resumindo, Sankofia é uma obra deconstrução utópica-sankofica de representatividadeem inúmeros gêneros literários. Algumas intençõesestão em formato fechado com início, meio e fim,mas outras eu apresento em formato defragmentos, intenções a explorar, possibilidades queusam a literatura não apenas como umentretenimento, mas como uma ferramenta deaprendizagem e compreensão aprofundada doafrofuturismo.

***

ERA AFROFUTURISTA

Tenho a sensação de estar embarcando numaviagem espacial quando entro no super trem, comonaquelas de ficção onde só vemos linhas brilhantes.Mas para a minha sorte, aqui elas são coloridas econectadas a um céu azul, bem diferente da épocados meus bisavôs.

A minha ansiedade no dia era enorme, pois nainternet só existiam boas e ótimas avaliações, sóque tudo de modo generalista, dando a entenderque tudo muda de lugar e a única certeza é a de queseus visitantes se tornam uma melhor versão de simesmos, muito melhor. E deve ser verdade, pois éfamoso, ninguém dá spoilers e meu pai não vê ahora de atravessarmos a rua.

— Você com certeza vai amar este lugar.

Assim que colocamos o pé na área ampla, me vidiante de um prédio de quatro andares, espelhado,e com a longa faixada do primeiro andar todagrafitada, de um jeito muito legal, mas antesparamos diante de uma placa e meu pai apontoupara ela, esperando que eu a lesse e entendesseonde estávamos.

SPACE IS THE PLACE

(Espaço é o lugar)

Bem-vindo ao Centro Cultural do Afrofuturismo

Eu reconheci o nome, a mamãe fala sobre este lugarde tempos em tempos, mas sem maiores detalhes,pois diz que a primeira ida até lá é como um ritual deautoconhecimento. Ela disse que o local estáfazendo aniversário e recomeçando num novoendereço, maior, e pelo jeito é aqui. Sei quedemoraram alguns anos para coletar e organizar asobras doadas e o conceito multimídia ficoufantástico. Eu ouvi falar.

E eu reconheci a palavra – Afrofuturismo , a ideiade um modo geral tem a ver com a projeção depessoas negras no futuro: protagonistas de seusdestinos, se vendo capazes de salvar e mudarqualquer mundo, em qualquer época através desuas decisões e ações, se tornando heroínas eheróis de face negra diante de qualquer jornada quetomem como sua. Algo que parte da sociedade nosimpedia de ter através de inúmeros “mecanismos”.Isso eu comecei a aprender na escola e em casa,mas o papai disse que sentir a palavra é diferente desaber, e por isso, estamos aqui. É a minha hora desenti-la também.

— Então… como era ser negro na época que oAfrofuturismo começou? E nós, finalmentevencemos?

— Hummm… resposta nº 1 – Nada fácil, poisimplicava em se dedicar a um trabalho árduo dereconhecimento de si mesmo e do seu lugar nomundo. Insistiam em dizer que não tínhamos odireito a estar nele, o futuro. Porém, desde muitoantes desta palavra ou qualquer outra relacionada,existir, nós já lutávamos por um “dia seguinte”, muitoantes do nosso sequestro e abdução em largaescala, e principalmente após ele ter ocorrido. E…

— E a segunda pergunta, vencemos?

— Calma, eu ia responder a esta agora. Não, nósnão vencemos, porque direitos são fluidos,movem-se pela intenção e desejo das pessoas.Logo não é possível “vencer” e ganhar direitos depresente, mas, o conquistamos e mantemos,através da consciência, da atitude, e principalmente,da memória e lembrança do que é ser um – abduzido– e sendo assim, o que nos mantém seguros é oeterno compartilhamento destas memórias.Entendeu? É como se hoje eu despertasse otelepata que há em mim para guiar você, e aquidiante de nós está o seu rito de iniciação, onde…você será imbuído dos mesmos poderes que eu esua mãe temos, que todos aqui possuem. E quedaqui por diante, te ajudarão a perceber distorçõesno tempo, no espaço, nas falas, ou seja, agora vocêserá um aprendiz, podendo salvar qualquer um coma verdade. Hoje você entenderá tudo o que digo ede certa forma, nada te parecerá estranho, mesmoque desconhecido aos olhos.

Minha curiosidade só ficou maior e resolvi perguntarpor que tínhamos que ser sempre atentos. Nessemomento, meu pai se abaixou e disse que tudo tinhaa ver com uma palavra bem pequena, masimportante – poder – essa era a palavrinha pela quallutavam, “ eles ” para nos diminuir e silenciar, e “ nós ”para nos fazer representar e aparecer. Esse era omotivo, em parte, de eu viver numa outra realidade,em uma dimensão bem melhor, exatamente porquetínhamos alcançado poder suficiente para quepensassem duas vezes antes de qualquer coisa queviessem a cogitar.

— E como seu pai e um pesquisador, te afirmocategoricamente que você está vivendo sob a tutelada primeira Era Afrofuturista , resultado desta eternavigilância, algo que aprendemos em coletivo aproteger, e hoje, você se tornará integrante dapróxima geração de vigilantes telepáticos, assimcomo cada criança que já colocou os pés nestelugar, e como um dia sua mãe e eu tambémcolocamos, nesse grande sonho que na épocaocupava apenas um casebre. Na verdade, você já éum afrofuturista e nem sabe, mas, vai entender oque isso significa e como começou. Mas calma…respira, pois vamos aprender e nos divertir também,prometo.

Meu pai começou dizendo tudo aquilo com umsemblante sério, que depois foi se amenizado edando lugar a um sorriso, mas eu ainda estava sementender todas aquelas coisas em forma depalavras tão pequenas e fáceis de falar: Antes?Eles? Abdução? Poder? Geração? Vigilante?

Eu tinha tantas perguntas na cabeça, tantas, e nemtinha entrado no tal lugar ainda, mais perto a cadapasso que dava em sua direção e então bem naentrada, decidi, todas as minhas dúvidas iriamesperar até o final daquela aventura.

Assim que atravessamos as portas sensíveis aomovimento, me deparei na entrada com duasestátuas banhadas em bronze, a de uma mulher eum homem, cada um com um pequeno globoterrestre na mão, sustentando ao alcance dos olhoscomo se estivessem vendo além, e com osseguintes dizeres numa placa logo à frente.

Às primeiras negras e negros futuristas semnome desde tempos imemoriais na África eDiáspora. Nosso reconhecimento Aos sacrifíciose agradecimento pelo doar de suas vidas.

Fiquei sem reação, e ao meu redor, vi outrascrianças com a mesma expressão, acompanhadasde seus pais, só pai, só mãe, pai e pai, mãe e mãe.Percebi pelo olhar delas se cruzando com o meu,que também estavam com um sentimento aindasem nome no peito, com certeza imaginando o pesoque as palavras – sacrifício e doar – tinham naquelesdizeres. Por um instante, me senti como o papai, umtelepata dividindo através de um silêncio consensual,como ser negro, para nós, hoje é muito mais segurodo que a tempos atrás.

Senti que meu pai esperava que eu perguntassealgo, mas, apenas segurei forte em sua mão e eleentendeu que eu precisava de um tempo, pois decerta forma, eu entendia o que aquela frasesignificava mais do que gostaria de imaginar.

— Temos três andares para explorar, mas aindicação é que comecemos pelo terceiro, numaespécie de mergulho na própria história e daí, vamosdescendo as rampas. Tudo bem?

Respondi que sim, mas antes de subirmos asrampas, resolvi perguntar. — Por que a mamãe nãoveio?

— Bem, a sua mãe não veio porque ela é um tipo depossibilitadora de afrofuturistas de nível acadêmico equando surge um problema que não tem comoresolver, sem ser presencialmente, ela precisacomparecer, uma obrigação que assumiu comoreitora de uma universidade federal prestigiada. Emsuma, a sua mãe é uma heroína com umsuperescudo feito pelos deuses negros do Panteãodas Palavras que a escolheram para…

— Pai? A mamãe não é super-heroína e não temescudo.

— Ah… mas que criança pouco imaginativa. Tenhaem mente uma coisa, sua mãe não está com agente nesse exato momento por causa do seuimenso poder de argumentação ao se posicionar. Equando ela fala, as pessoas ouvem, respeitamquerendo ou não, o que tem a ver com aquelaquestão da eterna vigilância que te assustou umpouco, eu sei, fui meio enfático. Mas com o tempovocê vai entender e perceber que esse legadocompartilhado está mais leve para a sua geração,desde que saibam de onde vieram para além damatéria que constitui os nossos corpos, obrigaçãoda minha geração garantir a você.

Assenti com a cabeça e concordei, pois de algumaforma comecei a entender as metáforas do meu pai,um outro modo de dizer as coisas. Compreendi quea palavra “escudo” tem a ver com o currículo dela e otal “panteão” com todas as pessoas que elaestudou. Ah… e ser uma reitora defendendo oensino é como ser uma heroína negra. Viu? Estoupegando o jeito.

Enfim, começamos a subir a rampa lateral deentrada para o terceiro andar e imediatamentereconheci nas paredes vários símbolos, porém,todos do mesmo provérbio que eu conheço bem,seja em formato simples, estilizado, preto e brancoou colorido no espaço, entre constelações, sistemasplanetários, galáxias, como terra, céu, ar, fogo, pedraou metalizado. São todos Sankofa .

Se wo were fi na wo sankofa a yenkyi

Nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficouatrás

(pertence a um conjunto de ideogramas maiorchamado Adinkra que possui centenas de outrossímbolos, cada um com o seu pensamento).

Aquelas combinações imaginativas me animaram,mas na entrada do terceiro andar, meu pai parou eme disse que eu precisava entender que resgataruma história tem a ver com alegria e tristeza, orgulhoe revolta, dor e cura, até onde é possível. E que dalipor diante, seria assim. Eu sentiria uma confusão desentimentos e que naquele dia ou depois, qualquerque fosse a pergunta, dúvida ou pensamento, eunão deveria deixá-la para “atrás”.

Concordei e entramos no andar intitulado…

AQUI, NÃO HÁ MÁQUINAS DOTEMPO

Achei estranho, mas com certeza aquela era umametáfora que eu entenderia em breve,prosseguimos alguns passos até ele parar noprimeiro item, parecia uma pilastra de tamanhomédio com uma caixa transparente embutida, e nela,vi páginas que eu não sabia dizer que língua era,mas, ao lado existiam as traduções, que começamcom uma explicação, um preparo para o que eu leriaa seguir.

Não é possível conceituar porque agiam oupensavam assim, ou o que os motivava, apenas queera algo real e que sentiam ser uma missão “divina”concretizar os escritos — o racismo, antes do nomedesde a Antiguidade.

O Rig-Veda, composto entre 1000 e 500 a.C.,demonstra a impossibilidade de sustentar a tese deque o racismo era desconhecido durante aantiguidade 1 . (…)O hino a Indra 4.16.13 louva-o da seguinte maneira:“Você apagou os cinqüenta mil peles negras,destruindo seus castelos como se o fogo consumisseo tecido. ”

Li outras três páginas disponíveis e enquanto ofazia, parei para ouvir meu pai explicar a diferençaentre o significado da palavra raça hoje e o seusentido naquela época, assim como o que é racismoe porque uma educação não racista não erasuficiente para resolver o problema; tinha a ver compoder sobre o outro, em específico sobre nósatravés do tempo.

Bem ao lado das páginas, vi outra pilastra e nesta,encontrei monitores onde vídeos acompanhados defones explicavam vários conceitos pela voz econstrução teórica de pessoas negras históricas,ouvi tudo, mas eu gostei da simplificação que meupai fez para eu entender e me deixar sem medo, issome tranquilizou.

Ele me explicou que o conceito de raça na época erapseudobiológica, uma invenção para criar superiorese inferiores sob critérios falsos nada científicos queforam fortalecidos por outros campos, onde pessoascom o mesmo propósito se ajudavam e que naquelaépoca “ eles ” eram a sua própria escrita, razão, esendo assim, perpetuavam, deturpavam eescondiam as várias histórias africanas, suasgrandes civilizações, seus conhecimentos comomedicina, filosofia, matemática, física, astronomia,tanta coisa… e que esta Era de Sombras sobre ospovos negros, perdurou por séculos, mas não semresistência.

Ali, entendi plenamente o nome do andar e osignificado daquelas estátuas na entrada, para alémdos grandes nomes escritos na história que meu pairecitava com alegria e que mesmo não vencendo abatalha, todas as vezes, registraram na memória domundo seus levantes que nos deixaram legadoscomo Zumbi e Dandara de Palmares, Luis Gama,Luísa Mahin, L’Overture…

Nesse momento, a analogia, a metáfora da abduçãoganhou sentido na minha cabeça: ser retirado deseu lugar ou sob ele perder também sua liberdade,sentir o tempo parar e seguir num outro ritmo, ter avida quebrada, deixada para “atrás” sem escolha eentão ser inserido numa realidade totalmenteabsurda, que menospreza tudo o que vocêsignificava enquanto pessoa: O estranho numaterra estranha.

Conforme seguimos, notei algo curioso, os adultospareciam estar em conexão ao explicar osacontecimentos da época. Juro, como telepatas secomunicando, pois se um começa, os outros eoutras ao redor completam e dão exemplos de comoisso ou aquilo aconteceu, em perfeita sincronia econcordância, como por exemplo, nos disseramcomo a fisiognomonia desde a antiguidade foiutilizada como técnica de leitura de traços ecomportamentos, onde descreviam a si comosuperiores, na mesma proporção em que o resto domundo não branco era lido como inferior emconhecimento, índole e caráter, tudo voltado a umpropósito: construir desigualdades favoráveis para si.

“Impérios na África” , esse era o nome daexposição foto-auditiva que entramos em seguida.Imediatamente me deparei com grandesduplos-painéis, onde cada face apresentava umimpério, dinastia ou civilizações através de muitasfotos e novas descobertas arqueológicas. E foi aíque me dei conta da quantidade de organizaçõescomplexas, eram dezenas: Gana, Axum, Congo,Songhai, Yorubá, Nok, Zimbábue, Peul, Kerma(Kush), Meroé, Napata, Monomotapa, Benin, Kitara,Mossi, Daomé, Ashanti, Ruanda, Loango, Ndongo,Burundi, as dinastias egípcias e tantas outras emtantas épocas que foi impossível ver tudo; nãoconseguimos.

Atualmente, pelo o que entendi, existe umaforça-tarefa de pesquisa sobre pirâmides fora doEgito, tanto no país Mali que tinha um império com omesmo nome, quanto no Sudão (Núbia) dos ImpérioMeroé e Kush, país com a maior quantidade depirâmides do mundo e que sofreu com a ganânciade saqueadores, especialmente Ferlini que destruiuo topo de todas as pirâmides dali em 1834, mais decem (100). Hoje estas áreas são disputadas porpesquisadores de várias áreas e países queesperam até três anos numa fila de espera paraconseguir permanecer por lá seis meses estudandoos sítios arqueológicos.

Quando saímos dali, corri para a exposiçãoholográfica “Papyrus África” onde fiquei fascinadopelos inúmeros papiros matemáticos africanos,datados de no mínimo 1.200 anos antes de Cristo,ensinando como calcular volume, área de triângulo,as funções básicas de álgebra e trigonometria,integral e diferencial, fração… simplesmente incrível.

Ali fiquei sabendo que muitos destes conteúdostiveram seus nomes alterados e eram largamentereconhecidos pelo nome daqueles que os tomaramde seus países de origem, e mais, meu pai mecontou que muitos matemáticos ocidentais no séc.XIX, XX e XXI, mal informados ou intencionados,tinham a prática de chamar esta matemática-berçode incipiente, ingênua e até atrasada. Mas, o quenão se contava era que a linha evolutiva tinha sidoquebrada por invasões gregas, romanas, etc. eentão, estes conhecimentos eram destruídos outomados, reescritos e utilizados como “ deles ”,desenvolvido por “ eles ”.

Outra coisa que gostei muito foi o Memorial dosDefensores pela Liberdade que ocupa a parededo lado oeste inteira.

Nosso agradecimento aos negros e as negras queresistiram ao colonialismo e escravidão, que foramlíderes de organização quilombola e abolicionista, eque também demonstraram genialidade em inúmerasáreas (entre os tempos) como engenharia,agronomia, metalurgia, ciências biológicas, naturezae saúde, literatura, matemática, filosofia e educação,ciência espacial,…

Essas pessoas mudaram o futuro e graças a elas,eu aprendo hoje no colégio que “pi” é um número deorigem africana (mas que diziam ser grego) e quejunto com “phi” construiu pirâmides e outrasproezas. Eu ainda estava sonhando com os papirosquando meu pai me disse que devíamos entrar naexposição do Mali e perder o fôlego de vez. Nãoentendi na hora, mas quando entramos…

No Mali, fica uma cidade chamada – Timbuktu – enela, a histórica Universidade de Timbuktu (Sancoré,Djinguereber e Sidi Iáia), fundada em meados doséc. XII (12) com seus milhares de documentos quecontam muito desta época e da produção deconhecimento de vários cantos da África,reconhecida como patrimônio mundial da UNESCO,primeiramente traduzidos para o inglês, a língua dosfinanciamentos, mas que por pressão políticativeram que traduzir para o espanhol logo depois, epara o português foi um pulo…

Sua existência assegurada permitiu rearrumar váriosmomentos da história mundial que são estudadoshoje, dando ao continente africano um novo status,indo além do papel de poço de recursos humanos emateriais (colonização). Hoje, nos livros, estudamosas rotas comerciais dali que foram não sóimportantes para o enriquecimento da Europa queescoou toneladas de ouro africano por lá,principalmente para a Espanha; mas dali, tambémsaiu e muito, conhecimento para os grandesmomentos da história européia sobre luzes, direitos,ciências e muito mais.

Quando a exposição terminou, eu ainda estavaaéreo e cheio de pensamentos na cabeça, maspude ver no rosto das outras crianças que osmesmos sentimentos que me circulavam, tambémas rodeavam: admiração e indignação diante dahistória.

Não tenho a menor noção de quanto tempo ficamosviajando por aquele imenso andar, mas, quandoestávamos para sair, me sentia estranho, pois nele vio pior do que uma pessoa pode fazer à outra, masacima disso, a grandeza de nossa contribuição aomundo.

Eu não queria sair dali, mas, ao mesmo tempo mesentia cansado, só que não tinha a ver com o meucorpo. Sabe… era outra coisa, algo me incomodavade um jeito que não conseguia explicar. Acho queera um sentimento e eu não tinha palavras para ele,mas meu pai sabia o que era e decidiu quedeveríamos dar um tempo, respirar depois de todoaquele passeio por uma imensa história que aindatinha muito a me contar.

Ele cogitou que deveríamos lanchar e topei no ato,mas, depois segundo andar. Eu mal podia esperar.

Antes de sairmos, fomos ao setor de itens paravenda e lá fiquei uns vinte minutos indo e vindo entretantas coisas extraordinárias. Por mim levava tudo,mas o papai freou meu entusiasmo acelerado e mefez focar em quatro réplicas de itens históricos queiriam para casa comigo. E depois de muito pensar,escolhi:

O Papiro de Ahmes (erroneamente chamado deRhind), escriba egípcio que refazia os papiros deconhecimento em sua época, talvez ajudando aresolver as questões anotadas também, mas o legal,é que um muito especial com 85 problemasmatemáticos (de um anterior reescrito por ele) foiencontrado. Ele foi datado de 1.700 a.C. pelomenos, incrível, de 5,5m de comprimento por 0,32mde largura, muito legal; queria levar todos os outros,mas não tenho parede suficiente.

E a Linha do Tempo dos Povos Africanos ? Vocêsprecisam ver e ler, foi produzida por AbdiasNascimento e Elisa Larkin do IPEAFRO, e vai de4.500 a.C. até 2.000 d.C. com material de leitura,cheio de informação!;

Já o Tabuleiro de Senet , de XIV a.C. é um jogomuito legal de inteligência que vou aprender e levarpara o colégio.

E o Osso de Ishango , uau… tem uma réplica de 90cm aqui e também em seu tamanho natural (ÁbacoIchangi), um artefato com mais de 20.000 anos deidade. Será que era uma calculadora? Não sei.Ninguém descobriu ainda. Pensar nas possibilidadesé legal, mas, a história que cerca a sua descoberta ébem terrível: foi retirado do Congo que estava sobcolonização belga, outra palavra para descreverexploração em larga escala de tudo, de gente arecursos. Meu pai não queria, mas permitiu que euvisse algumas fotos do terrível capítulo da colheitade mãos e pés tanto de adultos quanto de criançascongolesas pelos belgas invasores. Não pude ouviros vídeos, mas sei o que significa a palavragenocídio e ali… aconteceu.

Ah, faltou dizer que o governo congolês na segundametade do séc. XXI (21) foi ao Tribunal de Haia(Convenção de Haia) e obteve a repatriação doÁbaco Ichangi e outros itens levados. Meu pai disseque isso só foi possível através de pressões políticase humanitárias, que possibilitaram a compreensãode que bens culturais tomados sob “dominaçãocolonial” deveriam ser vistos no mesmo contextodaqueles pilhados em guerras ou adquiridos semreconhecimento pátrio, ou seja, sem que o país em“regime democrático” os tivesse doado ou vendidoem condições legais. É meio complicada essa coisatoda, mas é bom saber que acontece e amenizauma “dor histórica”, outro ensinamento importante,mas acho que vai além, porque eu sinto algo sobreisso, um alívio que também me deixa feliz.

Foi tranquilo e não levamos mais que 10 (dez)minutos para comprar o lanche e conseguirmoslugares para sentar. De início ficamos em silêncio,mas meu pai parecia esperar que eu dissesse algoprimeiro, fizesse contato, e finalmente fiz.

— Tem tanta história africana por todos os cantos domundo e eu nunca me interessei tanto por sabermais…

— Isso é normal, não saber de tudo, masdefinitivamente seria um erro acreditar que nãoexiste nada, nenhuma história e isso, era recorrentenos séculos XX (20) e XXI (21) onde ainda noslevantávamos para correr atrás do prejuízo numapista muito desigual e cheia de buracos na forma dediscriminação direta, indireta, desrespeito aosdireitos e à identidade racial, étnica das pessoas. Eisso você vai ver no próximo andar, da marginalidadeà insistência e construção de caminhos próprios. Evocê… está se sentindo melhor agora?

— Sim, mas… tudo o que fizeram, não sei… senticomo se pudesse ter vivido aquilo. Deu medo pai.

— Eu entendo e conheço esse sentimento, poisdepois que entendemos o que é, e seu significado,ele nunca mais nos deixa. O nome dele épertencimento , para alguns é étnico, mas no casode pessoas negras chamamos de “racial”, mas, nosentido que te expliquei assim que entramos aqui.Lembra?

— Sim, eu entendi bem.

— Isso mesmo e não usamos outra palavra depropósito, pois isso sempre nos dá a chance deconceituar o significado da palavra raça em seusdois lugares no tempo: no passado, quando foiconveniente para desqualificar e agir sob apopulação negra. E no presente onde há tempos,relemos os propósitos de novo e de novo,mantendo-a como um conector histórico capaz deseguir uma imensa linha de acontecimentos eexplicar muita coisa.

— Certo, mas o que é pertencimento racial? Defato?

— De modo simples, posso dizer que tem a ver comtoda a carga histórica que temos e o que sofremos,o quanto lutamos, então… quando vemos algoacontecendo de certo ou infelizmente errado, comuma pessoa negra por ela ser negra, o que significaser e pertencer a este grupo, sentimos que poderiaacontecer conosco também. É como se… a únicacoisa que impedisse – um fato – de estar ocorrendocomigo ou você, fosse o tempo e o lugar,fisicamente falando.

Depois de explicar, meu pai ficou me olhando etentando perceber se eu tinha entendido o quedisse, e sim, entendi perfeitamente e sorri, poisestava feliz por encontrar uma palavra para comome sentia, pensando em relação a tudo que conhecie vi até aquele momento.

E realmente, não há máquinas do tempo .

Ficamos ali mais quinze minutos enquanto euacessava a rede de conteúdos e mostrava para omeu pai cada detalhe.

E enfim, era hora de seguir, descemos a rampa e láestava outro nome inusitado…

ALIENS, VOCÊS DEVIAM TERPREVISTO NOSSARESISTÊNCIA…

Meu pai já ia entrando quando percebeu que euainda estava lá, olhando para aquela frase tão…realista. Agora eu começava a entender o sentido denossas metáforas bem mais rápido, e não conseguiadeixar de pensar… será que acreditavam, deverdade, que não iríamos resistir e simplesmentesumir como dunas ao vento? Sim, eles acreditavamnisso, mas fizemos questão de provar que não seriaassim…

Esse andar é totalmente voltado aosacontecimentos dos séc. XX (20) e XXI (21), e issosignifica que de agora em diante eu vou conhecer osfatos com foco nos levantes negros de resistência emudança, ou seja, a construção do futuro que vivo,hoje, pelas mãos dos que vieram antes de mim.

Assim que entramos, um painel de fotos começou adançar nos meus olhos. Eram cientistas, inventorese inventoras negras de todo o canto e época,idealizadores de coisas simples do cotidiano ainventos extraordinários, como o afrocanadenseElijah McCoy na época das máquinas a vapor,Granville T. Woods com seu filamento de lâmpadaselétricas e muitos outros dispositivos eletrônicos,Shirley Jackson que revolucionou atelecomunicação, da discagem à fibra óptica. Étanta coisa legal e eu uso muitas delas todos osdias:

Geladeira, batedeira de ovos, cortador de grama,papel, escova de cabelo, lavatório para cabelos desalão de beleza, galochas, cadeado, bomba deinseticida, tampas para garrafas, cadeira dobrável,carrinho de bebê, colher de sorvete, espremedor delimão, pilão, lampião, caneta tinteiro, elevador, pá delixo, tábua de passar roupa, esfregão, rolo paramassa, carimbo, irrigador de grama, triciclo,sanitário, extintor de incêndio, ar condicionado,secadora de roupas, câmbio manual e automático,vela de ignição, bonde, calculadora, óculos deproteção, óculos 3D, semáforo, trem elétrico,telefone, telefone celular, controle remoto, microfone,estetoscópio, máquina de escrever, guitarra, vídeogame, microchip de computador, disquetes e muitomais. 2

E foi demais rever a história dos irmãos Rebouças,engenheiros da estrada de ferro Curitiba –Paranaguá, portos importantes no Rio de Janeiro,além de outros feitos.

Meu pai disse que esse é o andar preferido daminha mãe, e que ela foi uma das incentivadorasdeste andar, inclusive com a doação de material deacervos particulares. Saber disso me encheu deorgulho e um dia serei um afrofuturista das letrascomo os meus pais, os novos escribas da históriacontemporânea negra.

Dali, seguimos para o próximo ambiente, o espaçoResistências Seculares , e assim que entramos,ouvimos vozes conhecidas. Aquela foi uma felizsurpresa, as mães do meu amigo estavampasseando por lá também com ele, que ficou felizem ver um rosto amigo.

— Somos suspeitas para falar, afinal somosjornalistas, mas este primeiro momento é o nossopreferido.

— Sim e como vocês, também estamos trazendonosso filho pela primeira vez – disseram às pessoasque as ouviam.

— Minhas mães são expert no assunto que estáaqui.

Meu pai achou perfeito e pediu a elas que fossem asanfitriãs daquele primeiro salão – A Imprensa Negra,que não era só um acúmulo de jornais digitalizados,mas um retrato da história da resistência da “ gentede côr ”, que é como a população negra erachamada no início do século XIX (19). E assiminiciamos… parando no primeiro registro de jornal – OHomem de Côr – lançado em 1833 por Francisco dePaula Brito num Brasil imperial e escravista.

Conforme íamos avançando, cada vez mais euficava fascinado pelos atos de resistência emtempos tão árduos e difíceis por todo o país, etambém, com as ações de incentivo à alfabetizaçãocomo fez a Sociedade Beneficente Luís Gama sócinco dias após o ١٣ de maio , a incrível organizaçãoda Frente Negra Brasileira com suas dezenas deassociações educativas, culturais e tantas outrasações, que buscavam mudar o destino semhorizonte da gente negra ano após ano, mas nãoera fácil diante do racismo, dos poucos recursos edas instabilidades políticas.

Uma das coisas que elas disseram e fizeramquestão de frisar para nós dois, é que as palavrassão um instrumento importante de poder, sendocapazes de uma sutileza massacrante em gotas oude uma única batida feroz de martelo. E por isso,lutava-se no século XX (20) e XXI (21) para que asmídias e conteúdos de um modo geral parassem deescrever, por exemplo, “escravos libertos” quando ocorreto seria dizer “negros libertos”. A insistência nouso do termo escravo ao invés de negro escravizadodeixava à vista uma naturalidade assustadora.Então, imagine como uma criança negra se sentiaao ter que ouvir que seus antepassados eram, só, esomente escravos, nunca pessoas: o escravo isso,os escravos aquilo, os escravos fugidos, os escravoslibertos. Isso com certeza era horrível.

Horrível… essa é uma palavra boa para descrever umevento, o Congresso das Raças (Londres, 1911),onde representantes brasileiros juraram ser capazesde fazer os negros do Brasil pós-abolição sumiremem 100 anos? Pois é… acreditavam sim, nós lemos odiscurso e deu calafrio, pois tentaram a sério com aimigração europeia, a eugenia racista, a democraciaracial, a ditadura e tudo o mais.

As mães do meu amigo deram um show e os outrospais aproveitaram a viagem nas informações ecuriosidades, com direito a palmas no final pelaincrível exposição. Foi uma viagem e tanto, e o salãoseguinte, intitulado Persistentes Icônicos , meu paise prontificou a apresentar, todo animado.

— Vocês vão adorar… totalmente dedicado àpessoas que revolucionaram a história e moldaram oque viríamos a chamar de “pensamento negro” deseus muitos lugares de atuação.

Abdias Nascimento, Clóvis Moura, Luis Gama, LéliaGonzalez, Kabengele Munanga, Maria Firmina dosReis, Luiza Bairros, Beatriz Nascimento, SueliCarneiro, Marcelo Paixão, Cheik Anta Diop, LuisaMahin, Carlos Moore, Milton Santos, Aimé Cesaire,Guerreiro Ramos, Angela Davis, Cuti, Joel Rufino dosSantos, Zózimo Bulbul, Nei Lopes, Alberto GuerreiroRamos, Teixeira e Souza, Charles Mills, JamesBaldwin, José do Patrocínio, Lima Barreto, Tereza deBenguela, Chinua Achebe, Donato Ndongo, WoleSoyinka, Mandela, Toni Morrison, Steve Biko, RosaParks, Martin Luther King, Ferréz, Solano Trindade,Ruth de Souza, Frantz Fanon, Bel Hooks, Paulo Lins,Sebastião Rodrigues Alves,…

E na sequência, vários painéis foram dedicados àsorganizações quilombolas como Palmares, Revoltade Búzios (1798), Revolta das Carrancas (1833),Revolta dos Malês (1835), Insurreição do Queimado(1849), Revolta da Chibata (1910) e ao TeatroExperimental do Negro (1944-1961), a primeiragrande organização artística, uma companhiafundada por Abdias Nascimento, mas que mantinhatambém um caráter político de conscientização dapopulação negra através de debates, cursos dealfabetização e também de atuação teatral paraseus participantes.

Já o último painel daquela sessão era diferente,falava de Marcos Sociais & Legais , onde ouvimosfalar do – Projeto Unesco – uma ampla ação depesquisa realizada no início da década de 1950, querevolucionou ao dizer que havia no país a existênciade um “problema racial”. A “democracia racial”brasileira era um mito. Ali tivemos acesso adocumentos digitalizados de várias épocas, como aConvenção da ONU sobre a Eliminação de todas asFormas de Discriminação Racial (1966), Lei Caó(1989), Declaração de Durban (2001), Lei 10.639/03,Estatuto da Igualdade Racial (2010) e também deoutros países, tanto favoráveis quanto racistas. Doisbons exemplos são a Lei de Terras (Brasil, 1850),que impedia negros de comprar terrenos, e as leisJim Crow nos estados ao sul dos Estados Unidos,que pregaram a segregação racial de 1876 a 1965.

Enfim… encerramos aquele tenso circuito com omeu pai, que foi um guia voluntário tranquilizador,assim como as mães do meu amigo e alguns outrospais presentes. Estávamos bem, mas a últimasessão do andar não seria nada tranquila, bemvisível no rosto dos adultos e aquela palavra… eusabia o que significava – Ditadura, mal me quer(ia) .

— Desculpem o atraso de horas, mas acho quecheguei bem a tempo de dar uma das minhasmelhores palestras.

Eu não acreditei, achei que não daria tempo, mas aminha mãe estava ali. Corri e a abracei sem pensarduas vezes. O perfume dos dreads dela caídossobre a minha cabeça eram como abraços extras, osmelhores do mundo, e meu pai adorou a surpresa.Ela conseguiu chegar antes do previsto.

— Mãe! Que bom, deu tempo.

— Eu não perderia a sua iniciação na extensahistória dos nossos antepassados e afrofuturistaspor nada. E seu pai me manteve informada o tempotodo.

Aquilo foi demais e os outros pais e mães ficaramsurpresos, pois minha mãe é meio que uma…celebridade das letras, acho que tem a ver com osprêmios Jabuti e o Pulitzer que ela ganhou por seuslivros de ficção histórica. Então, o que não faltouforam pedidos de fotos e autógrafos, até o pessoaldo local aproveitou, e olha que engraçado… ummundo de tecnologia e minha mãe jamais deixou deter papel e caneta ao alcance.

— Muito bem visitantes, gostaria de ser a pessoaque vai guia-los por esse momento da históriabrasileira, um dos períodos de maior vigência doautoritarismo na era moderna, e também o períodode maior enfrentamento e organização do que viria aser chamado oficialmente de “movimento negro”. Ecomo bem diz o nome deste andar: Eles deviam terprevisto a nossa resistência .

Começamos a caminhar rumo a este último espaçoe é incrível, minha mãe realmente tem o poder defazer todos ouvirem o que ela tem a dizer.

Assim que entramos, ela apontou para uma galeriadigital com imagens de todo o tipo: militantes noexílio, militantes vigiados aqui, fotos de reuniões,bailes soul, eventos, jornais comuns com algumanotícia relacionada, e especialmente, jornais negros,clandestinos e fora do circuito oficial como o Árvoredas Palavras (SP), Versus (SP), Tição (RS), Jornegro(SP), Sinba 3 (RJ), O Quadro (1974), Nagô (1975) emuitos outros, mas o que mais se destacou foi o doMUCDR 4 por ser um jornal nacional de umaentidade importantíssima na época. E na galeriatambém havia o nome de organizações como oIPCN 5 , CECAN 6 , CEBA 7 , etc.

Minha mãe explicou que apesar da repressão,aquele foi um momento de crescimento das açõesnegras de resistência.

— Vários ativistas desta época já eram “frutos” deoutros movimentos e tinham na consciência nãosomente a luta antirracista, mas, a luta pelaintelectualidade e literatura negra. No cerne, estestrês elementos tinham muito em comum.

E sim, minha mãe contou que um dos lemas daquelaépoca era de que o país era uma democracia racial,que é exatamente o que a pesquisa da UNESCOafirmou que não existia, anos antes. E mesmoquando proibiram as organizações e reuniões, osmovimentos negros se reuniam, debatiam e insistiampor todos os cantos do país. Nessa época, novosmovimentos dos movimentos, também surgiram, emespecial, de mulheres negras que estavam no últimodegrau dos direitos, mas, dispostas a mudar essarealidade o quanto antes.

E não demorou, para que toda essa movimentaçãofizesse “ eles ” verem as organizações negras como –subversivas e agitadoras da ordem – o quesignificava que seriam investigadas, seus membros eorganizadores vigiados, e cada ato seria registrado eavaliado. “ Eles ” não gostavam das denúncias sobreas mazelas do país, não gostavam dos manifestos,textos, jornais e por isso vigiavam, mas quando nãoeram suficientes, eles iam atrás das pessoas queconsideravam perigosas à “pátria harmônica” elevavam para interrogatórios, maltratavam, prendiame às vezes, estando presos ou livres e andando poraí, um dia qualquer alguém nunca voltava para casa.

Mais à frente, num monitor, vimos trechos dedepoimentos e centenas de páginas de relatórios efichas que fizeram durante a ditadura. Pensar emtudo o que passaram naqueles tempos e depois, meassustou, me senti “em perigo” como se estivessenaquela época, pois, mesmo quando a democraciaveio os direitos e o reconhecimento dasdesigualdades não vieram juntos. Apertei a mão domeu pai e ele percebeu, mas disse que eu tinhasorte, pois o que só ouvia a minha mãe falar foi real,bem real um dia e ali, naquela época afrofuturista euestava a salvo.

Então… de certa forma eles lutaram por mim, mesmosabendo que nunca me veriam nascer ou meus paisou ninguém aqui. Então… eles lutaram pelo futuro degente negra que jamais saberiam os nomes. Aquilome deu um nó na garganta e quando estávamospara sair de lá, resolvi dizer baixinho para algunsdeles, caso estivessem por ali ouvindo. Obrigado eobrigada por tudo .

E concluímos o segundo andar com… algumasnuvenzinhas na cabeça e interesse em entendermais. Nesse ponto, os guias do andar nos indicarama livraria com atendentes especializados queresponderam algumas dúvidas, o que incluía umapergunta feita por um casal de pais com a sua filha,eles queriam saber sobre a literatura negra doperíodo da ditadura, e a guia informou que tinham oslivros certos para sanar as dúvidas, mas que seriabom respirarmos e buscar fôlego para o que estavapor vir.

Eu concordei e pedi chocolate quente e livros extrasantes de embarcarmos na última grande aventurado dia.

O FUTURO É O LUGAR

E ESTAMOS NELE, PRESENTEE PASSADO TAMBÉM

— Eu entendi o nome do andar? É uma metáforasobre o futuro que chega aos nossos dias de hoje edepois vira passado e começamos de novo. É issomãe?

— Sim, mas diz um pouco mais… se almejamos ofuturo, precisamos aprender com o passado, que jáo foi, e escrever o presente com a intenção de queseja um futuro que ainda não se tornou. Resumindo,devemos aprender com que veio antes e com ahistória, pois não existe nada mais sábio que os diasque já se foram.

Hummm… acho que entendi o que a mamãedisse, e se não, esse andar inteiro vai me explicar,mas de imediato me chamou a atenção os doisbustos reais e nada digitais na entrada, e quediziam…

Antônio Gonçalves Teixeira e Souza

O Filho do Pescador (1843)

O primeiro romance-folhetim brasileiro nasceu das mãos deum homem negro.

* * *

Maria Firmina dos Reis

Úrsula (1859)

O primeiro romance feminino onde a humanidade

negra em plena escravidão é exposta nasceu das mãos deuma mulher negra.

Meu pai disse que aquela era uma justahomenagem e que ser um afrofuturista ou umafuturista negra, era um estado interior, onde anegritude plena só pode ser alcançada quando vocênão tem mais dúvidas do que o constitui, ou do quevirá a doar ao mundo enquanto uma pessoa negra,gente negra, pessoa de cor. Não importando a linhado tempo em que estamos, simplesmente será oque somos, e isso fará toda a diferença.

O primeiro espaço – Arte Negra – parecia umagrande exposição 8 de arte, onde me senti em casa.Soltei a mão da minha mãe e comecei a viajar poraquela imensidão de fotos de pessoas negraspintoras, escultoras, artistas plásticas e suas obrasem tinta a óleo, negativos, madeira, pedra-sabão,graffite e outros elementos da época colonial atéfinal do séc. XXI. A maioria delas ilustrava a vidacotidiana, a natureza, rostos livres, inspiradores oucativos de senzalas e periferias nos encarando oucontemplando o dia, o horizonte, um sonho, o futuro,talvez? Não sei, mas, ali fiquei perdido entrepensamentos de como aquelas presenças negrastinham sido apagadas da história brasileira.

Minha mãe lembrou-me de que na época daabolição oficial, no máximo, só vinte por cento dapopulação negra ainda era escrava, e que pressõespolíticas, ciclo de crises de produção e várias outrascoisas, que eu não entenderia se ela fosse meexplicar tintim por tintim, já tinham levado aescravidão para o seu fim eminente, não porconsciência humana, mas porque não era maisrentável. E isso me fez pensar no primeiro andar ecomo o que diziam não tinha o menor sentido diantede tanta beleza, exemplos e produções de cair oqueixo.

Eu estava pisando em nuvens de aquarela quandoentramos em – Literaturas, negras, histórias,literaturas – minha mãe disse que eu deveria encararessa viagem literária como um legado, não apenassobre negros escrevendo em tempos difíceis, masinsistindo em escrever e provar que existiam emtempos que não eram bem-vindos ao futuro.

— Eles escreveram sabendo que um diaresgataríamos suas histórias, de pessoas capazes,e as únicas interessadas em expor a beleza e averdade da vida dos negros, da vida deles e danossa própria, mesmo que ainda não vivida. É umaparte do todo e com o tempo, vamos vendo as linhasemaranhadas de nossa história ganhar plenosentido.

Eu concordei e no fundo, eu já começava a ver epensar sobre isso. E seguimos… ali estavam, agorapainéis de escritores e escritoras 9 .

Luiz Gama (Orfeu de carapinha), Auta de Souza,Machado de Assis, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos,Carolina Maria de Jesus,Rosário Fusco, Muniz Sodré, Nei Lopes, ConceiçãoEvaristo, Ana Maria Gonçalves, Lino Guedes,Oswaldo de Camargo, Éle Semog.

Já meu pai disse que a presença literária negraconseguiu exigir com mais vigor, reconhecimento dasua produção a partir da década de 1970, pois omontante de pessoas negras articuladas por direitosera muito maior.

— Esse é o painel de produções destacadasdaquele período… aqui, manifestações da literaturanegra: os Cadernos Negros com sua antologia anual10 , jornais do MNU e outras articulações como aVersus 11 , marcaram a época e a própria literaturanegra de essência marginal e periférica, que estavafora dos interesses do mercado literário por ser feitapor pessoas diferentes deles e, trazer vozes e temasfora da sua realidade (escrita pelos olhos de quemvive à margem da sociedade e dos espaços depoder). Então, era comum as produções simples, dexerox, edições do autor, de mimeógrafo 12 e outraspoucas destacadas pelo mercado. Tudo issofomentou, também, o surgimento do propósito domercado independente como algo concreto, indo deautores independentes a editoras pequenas.

Não era nada fácil, mas, era o que precisava serfeito e com o tempo, outra necessidade veio à tona,a produção cultural periférica, dentro das periferias.E nunca mais pararam de reagir, produzir e fazer adiferença.

Desta época, me chamou a atenção a vida deCarolina Maria de Jesus 13 , moradora de favela,catadora e apaixonada pela literatura com seusescritos em cadernos jogados no lixo. Ela chegou afazer sucesso, mas tudo o mais que aconteceu comela, é triste, de gosto amargo, e me deram asensação que reconhecer sua obra, seriareconhecer ela e todos os outros, negros e negras,como pessoas capazes de fazerem parte daliteratura brasileira.

E no final desta viagem, uma surpresa, um monte dereproduções de conteúdos daquela época paraconhecer e entender.

— Mãe, não seria ótimo se eles lá no passadopudessem receber notícias do futuro pelo quallutaram?

— Seria sim. E eu adoraria dizer a eles que vivemosno futuro que eles imaginaram, onde a utopia negranão está fora de nós, mas dentro, e que jamaispoderão nos arrancar isso do peito.

Fiquei pensando no que a minha mãe disse e meupai riu, ela sempre tem um pensamento que faz agente ficar pensando, ali, perdido nas palavras. Eentão meu pai…

— Ei, acorda… e vai lá aproveitar, pois daqui a vinteminutos embarcaremos no maior experimento negroda história.

E seu nome faz sentido para mim.

– AFROFUTURISMO –

A Soma de Todos os Passos

Em todos os Tempos

Pelo tamanho do local, dava para perceber queaquele era o maior espaço dali, e já na entrada, elefazia valer o seu nome, pois não tinha uma únicaentrada e sim cinco. Meus pais disseram que nãoera um labirinto, fielmente, a soma de todos ostempos. Aquelas entradas não eram fixas, então oque eu visse hoje, não veria da mesma forma emnenhum outro dia novamente.

Eu já estava adorando.

Escolhi a segunda da esquerda e lá fomos nós porum corredor arredondado, que misturava imagensfixas como num mosaico com trechos de imagensem movimento, e realmente, ali tudo se misturava,criando uma espiral de acontecimentos, e derepente, ouvimos uma voz e esperamos suaorientação.

Mude… interaja com a obra. E faça o seu próprio caminho.

O labirinto está vivo e não nos importamos com a ordem,mas com a certeza de que você precisa saber.

Toque a história.

Toque os acontecimentos.

Altere a ordem dos fatores, mas mantenha-os dentro devocê.

— E o que isso significa? Então eu posso…

— Pode e deve. Estamos numa imensa metáforasobre como olhar os acontecimentos e como cadaum nos toca e agora… você pode tocar eles de volta– meu pai riu e tirou uma das imagens da parede e láestava a mágica. A imagem mosaica descia,deixando um espaço vazio, depois, ele reencaixou apeça retirada.

— Então… eu posso mexer nelas? Mãe, elas nãocaem…

— Não caem e é isso mesmo. Sim, você está numimenso mosaico vivo e arredondado. Divirta-se!

Ah… eu não pensei duas vezes, me diverti trocandoas peças e lendo atrás sobre o que era e a quetempo pertenciam. E todas as pessoas queentraram naquele corredor estavam fazendo omesmo que eu, experimentando o lugar dos fatos econstruindo o próprio caminho.

Ficamos nos divertindo ali uns dez minutos e nasaída que concentrava todos os corredores, medeparei com a identificação de quem fez algo tãolegal.

Artista ……………………………..

Segunda fase afrofuturista (Brasil)

Arte sobre mosaico e estrutura

“Aquele zine afrofuturista que ganhei na escola mudou aminha vida.

Nunca tinha visto negro de periferia sendo herói de nada.

E agora, eu sou exemplo para os pequenos da minha área.

Se eu sou hoje, eles e elas serão amanhã…”

E mais, havia uma cortina de búzios muito especialfazendo as honras na entrada, pois nela, prestandoatenção era possível ver uma paisagem comcrianças negras correndo, como se nosconvidassem a segui-las. Era como uma miragemem movimento, que você vê e não vê ao mesmotempo, algo sem igual.

Artista……………………………..

Segunda fase afrofuturista (Brasil)

Arte sobre búzios com pintura

“Nunca imaginei fazer arte e viver como artista. Ninguém

da minha família conseguiu fazer algo parecido, muitosqueriam, mas

a dura realidade exigiu deles, segunda a sábado e,domingo e feriados alternados”.

Eu não sabia o que achava mais admirável, as obrasou os depoimentos. As duas coisas eram demais,mas eu nem tinha arranhado a superfície daqueleplaneta arte. Estava só começando, o que percebiassim que entramos naquela primeira área.

Eu estava diante da – AfroSoundBeat – espaçodedicado às várias possibilidades de composiçãomusical 14 do afrofuturismo. As pessoas colocavamos fones, ouviam as músicas e até dançavam aosom de álbuns de artistas, trilhas sonoras de filmes,outras específicas para exposições das maisvariadas, experimentais, inspiracionais e até paralivros, algo que se tornou comum e com direito àcategoria em premiações musicais. Até hoje é assime o vencedor do ano passado foi…

Artista ……………………………..

Terceira fase afrofuturista (Brasil)

categoria Livro Som do Ano

Álbum-livro………………………………….

“Lembro-me dos meus avós contando o rebuliço que foi terlivro assim, ainda usavam QR code. Eles me deram umafoto da pequena livraria de autores negros no centro do Pará. Ela está no meu estúdio e inspirou meus pais que meinspiraram também ”.

E se eu estava em um sonho, não ia acordar sembrigar.

Já a segunda área se chama – ExperimentosAfrofuturos – totalmente voltada à arte modernaafrofuturista. Ficamos ali um bom tempo alternandoentre salas iluminadas com obras de vários artistasem tela, colagem, escultura e ambientes de poucaluz com obras tecnológicas ou montagens queprecisavam se destacar. E no final, minha mãeapontou para uma, no último ambiente, a peça maisfamosa dali.

Artista……………………………..

Primeira fase afrofuturista (Brasil)

Arte sobre metal, madeira e Etc. com elementos das

manifestações afrobrasileiras

“E pensar que tudo começou com aquela pintura descritanum conto de suspense sobre o último quadro – A UtopiaMaracatu – a restar no mundo ser de um artista negro,

conterrâneo meu. Pois é… não sosseguei até produzir umparecido com tudo o que eu achava de útil. E foi assim,acreditei e meu destino mudou a partir dali”.

Nada mais, nada menos que a primeira e uma dasmais visitadas obras com lugar cativo no MuseuGuggenheim de arte moderna em Nova Iorque.

Tudo o que vi até ali me deixou pasmo, tantas ideias,pensamentos, mas o espaço seguinte ainda tinhaum lugar especial em tudo isso, tinha a história emmovimento 15 , organizada de modo alongado emestantes-caixa transparentes e em cada uma…

— Uau… eu não acredito. Pai! Mãe! Isso é sério?

— É e muito. Esta sala abriga as primeiras ediçõesde inúmeras obras lançadas na América Latina,pertencentes ao Primeiro Ciclo Afrofuturista , no séc.XXI 16 .

— Sim. Dedicaram muito empenho em reunir esteacervo único e alguns com autógrafos, tanto deescritoras e escritores, quanto de cineastas,jornalistas, pesquisadores, roteiristas, desenhistas,músicos. Enfim… aqui nesta imensa sala, tem umexemplar que ajuda a compreender o que sustenta opensamento, a filosofia, a Era Afrofuturista .

Eu estava diante de raridades como revistas emquadrinhos (HQ), esboços originais de heróis,cartazes, livros e roteiros (filmes, peças, curtas)premiados de inúmeros gêneros. Era tanta coisalegal que dava vontade de morar ali, mas foi quandome dei conta, que tudo aquilo fazia parte da minharealidade. Eu já morava nela.

— Pai! Aqui tem o roteiro do filme ……………………………………!Eu não acredito!

Artista ……………………………..

Primeira fase afrofuturista (Brasil)

Ficção Científica – recorde de bilheteria no Brasil

Blockbuster de status internacional

“Representatividade é poder, algo que não podemos abrirmão de ter e hoje sou quem sou e estou aqui porque outrose outras ensinaram a mim e a tantos e tantas antes de mimque rostos negros tem valor, história para contar e podeminspirar qualquer um”.

— É isso mesmo. Seus bisavós assistiram eufóricos.Foi uma reviravolta na mente das crianças, poisagora elas tinham como ideal, heróis e heroínasnegras que falavam a sua língua, e que falariam a demuitos outros países também.

— E não podemos esquecer o impacto de Nollywood17 desde os filmes experimentais até as distribuiçõesinternacionais aclamadas.

— Mãe … eu andei tudo e não achei os TrêsClássicos. Onde estão?

— Boa pergunta.

— Sério. Eles não estão aqui.

— Verdade…

— E onde estão? Mãe…

— Segure a sua ansiedade e eles estão logo àfrente, no último espaço desse andar.

— Isso e fecharemos com honras nossa viagemafrofuturista. Preparad x para o último grande salto?

Eu respondi sim e seguimos em frente.

Era a hora de finalizar aquela jornada, a mais incrívelque uma pessoa pode viver, a de se conhecer; e foiquando entendi porque não havia tour virtual no site.É impossível recriar digitalmente o contato, asurpresa, o tato das coisas e o que sentimos a cadapasso ali dentro, não importa que óculos derealidade virtual inventem. Não seria real.

Bom… para alcançarmos os três clássicos, tínhamosque atravessar um corredor que estava sendocontrolado por atendentes. Esperamos uns vinteminutos e na liberação, elas nos deram lanternas euma caneta especial para – encontrarmos osmistérios sobre os mistérios – e valeu a pena, pois oque estava à nossa frente, na verdade era outradimensão, obra de arte e poesia.

Entramos num ambiente com pouca luz, e cheio demicro luzes espalhadas por todos os lados, indo dasparedes aos painéis arredondados que pareciamnão ter qualquer organização horizontal, vertical,inclinada ou de tamanho, mas não demoramos aperceber que estávamos errados e com um olharmais atento, acompanhado de um passo atrás,revelava-se a genialidade da coisa. Tudo o queprecisávamos era de uma caneta e a tínhamos.

Aproximei-me da parede e comecei a ligar os pontosdo exterior para o interior. Todo mundo começou aver alguma lógica e rapidamente deduzimos o quãoextraordinário era tudo aquilo.

Quando terminei de ligar os pontos, vi as pirâmidesdo Vale de Gizé, no Cairo (Egito), vistas de cima elembrei da maquete no primeiro andar com asobreposição da Constelação de Orion sobre elas.Outra pessoa descobriu fractais e um mistério logoabaixo do desenho, camuflado pela cor da parede,cada uma daquelas conexões tinha umaidentificação relacionada a algum lugar ou algo naÁfrica. E ao terminar de ligar os pontos, todosconheciam a “sua obra”, esfregando a mão bemrápido, produzindo calor e depois sumia de novo,assim como os riscos de caneta alguns minutosdepois.

Artista ……………………………..

Terceira fase afrofuturista (Brasil)

Arte sobre memoria – interativa

“´Periferia, baixada, quebrada, comunidade, tudo um lugarsó. Eu ia em eventos da área, via pessoas como eu fazendoalgo para que víssemos além das barreiras

invisíveis, mas duras do mundo. E sobre esse invisívelresolvi fazer arte

e mostrar que somos parte no mundo”.

Ali estavam fractais da Colônia Baila na Zâmbia, osdesenhos geométricos das casas dos povosKassena de Burkina Faso, símbolos Adinkra e seusignificado, desenhos contadores de história Lusona(Sona), arabescos egípcios, o relevo dos prédios daUniversidade de Timbuktu (Mali) e … nem sei o quedizer, a não ser o que já tinha dito, arte e poesia comum toque muito legal de tecnologia.

Saímos lá de dentro com o sentimento de quem teveum sonho muito, muito bom e enfim, finalmente,estávamos no mesmo salão dos Três Clássicos 18 .

Aquele salão havia sido preparado de mododiferente, não vi nenhum painel, apenas paredesonduladas como dunas de areia e, cada uma,dedicada a eles, ela e suas obras que sussurravamsuas trajetórias dedicadas ao renascimentoconsciente de pessoas negras através de seusescritos e ações 19 .

As três primeiras obras literárias afrofuturistasbrasileiras do século XXI estavam ali, originais,autografadas e protegidas, cada uma no topo deuma pequena pirâmide transparente que lembravaaquelas do reino Kush no Sudão. E ali estava maisuma metáfora, eu pensei, a do conhecimento comoum tesouro que transcende o tempo.

Esperei a minha vez de chegar bem pertinho e veros detalhes, os livros 20 estavam fechados, mas aolado havia uma reprodução do autografado ededicatória que cada um fez, não só se referindo aolivro, mas inspirando quem o adquiriu a ser mais umponto luminoso na imensa obra que é a memória.

Lu Ain-Zaila

Duologia Brasil 2408

NKYINKYIM

Foi muito legal, cada parede dedicada começavacom um arquivo de fotos organizado, de maneiracircular, e no seu centro, encontrávamos suas mãosimortalizadas, que podíamos tocar, sentir cada linhae marca daquelas palmas e dedos que escreveramas primeiras palavras sobre pessoas negras sendoextraordinárias no futuro, vozes sendo ouvidas ecapazes de mover multidões ou salvar o mundoatravés de seus poderes, discursos, inteligência esacrifício, um olhar e lugar humano a muito tempomerecido.

Fábio Kabral

O Caçador Cibernético da Rua 13

OWIA KOKROKO

Ao final daquele passeio por suas vidas, referênciase por tudo o que tinha visto até ali, lido,compreendido e sentido, entendi a essência do queé ser afrofuturista… uma face que vê e se orgulha detoda a sua ancestralidade ao olhar no espelho,ciente desde a primeira respiração ao acordar quemerece seu lugar ao sol, sob a luz da lua ou entre asestrelas no mundo real.

Anderson Assis

O Mensageiro das EstrelasAYA

E pensar assim, significa aceitar fazer uma jornadade autodescobrimento com reviravoltas, altos ebaixos que por fim, trazem como recompensa, orenascimento de si mesmo.

Ah… e o meu nome é o seu.

E esse foi o nosso rito de iniciação, compartilhadopor um encontro de caminhos em algum lugar dotempo e espaço.

Fui até aqui a voz da sua jornada por uma história dahumanidade que insistem em não contar, mas agoravocê é um afrofuturista como eu e vai contar erecontar até que a sua Era seja a minha Eratambém.

SIGNIFICADO DOS IDEOGRAMAS ADINKRA

Sankofa – Nunca é tarde para voltar e apanhar o queficou para atrás.

Nkyinkyim – iniciativa, dinamismo e versatilidade.

Owia kokroko – significa vitalidade e renovação.

Aya – significa resistência e perseverança diante dasadversidades.

OBRAS CITADAS

ERNESTO, Luciene (2016): Duologia Brasil 2408 (livro 1).(In)Verdades. Rio de Janeiro: sem editora.

ERNESTO, Luciene (2017): Duologia Brasil 2408 (livro 2).(R)Evolução. Rio de Janeiro: sem editora.

KABRAL, Fábio (2017): O Caçado Cibernético da Rua 13. Riode Janeiro: Ed. Malê.

ASSIS, Anderson (2016): O Mensageiro das Estrelas. Rio deJaneiro: Editorial Oeste.

REFERÊNCIAS

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FREITAS, Kênia (Curadoria). Afrofuturismo: Cinema e Músicaem uma Diáspora Intergaláctica (2015). Disponível em <http://www.mostraafrofuturismo.com.br/Afrofuturismo_catalogo.pdf >.

LARGO, Vanessa; SILVA, Heloísa C. da. Matemática e Arte -Minicurso com base no livro de Paulus Gerdes. UTFPR.Disponível em <http://www2.td.utfpr.edu.br/semat/I_semat/MA.pdf >.

ACERVOS DIGITAIS

Imprensa Negra (Arquivo Público do Estado de São Paulo).Disponível em < http://www.arquivoestado.sp.gov.br/site/ >.

Imprensa Negra (Fundação Biblioteca Nacional). RJ.Disponível em < http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx >.

___________. Imprensa Negra é destaque no site do ArquivoPúblico. Gov. do Estado de São Paulo. Disponível em <http://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/ultimas-noticias/imprensa-negra-e-destaque-no-site-do-arquivo-publico/ >.

USP (Portal da Imprensa Negra Paulista). Acervo digital(1903-1963). Disponível em <http://biton.uspnet.usp.br/imprensanegra/ >.

ESTADO DE SÃO PAULO. Comissão da Verdade: Relatório(Ditadura) – Tomo I – Parte II – Grupos sociais e movimentosperseguidos ou atingidos pela ditadura (Perseguição àpopulação e aos movimentos negros). 207 pg. Disponívelem <http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/relatorio/tomo-/downloads/I_Tomo_

Parte_2_Perseguicao-a-populacao-e-ao-movimento-negros.pdf >.

ESTADO DE SÃO PAULO. Comissão da Verdade: Relatório(Ditadura) – (TOMO I. Parte I: estruturas e sistemas darepressão; TOMO I. Parte II: Grupos sociais e movimentosperseguidos ou atingidos pela ditadura (negros, indígenas,feminino, LGBT, infância, trabalhadores, estudantes e saúdemental); TOMO I . Parte III: Ações de resistência e medidasde justiça de transição, e TOMO I . Parte IV: Arquivos ememória). Capítulos e subcapítulos. Disponível em <http://comissaodaverdade.al.sp.gov.br/relatorio/ >.

___________. PROJETO Resistir é preciso – A Imprensa daResistência. Disponível em <http://resistirepreciso.org.br/alternativa/ticao-jornegro-sinba/ >.

FAERMAN, Marcos (fundador). Jornal Versus (1975-1978):Suplemento Afro-Latino-América (a partir do número 12).Disponível em <http://marcosfaerman.s3-website-us-east-1.amazonaws.com/versus.html >

Rainha Ahmose Nefertari (múmia, mulher negra, detrancinhas). Imagem em <https://vinteculturaesociedade.wordpress.com/2014/01/28/imagem-a-rainha-e-suas-trancas/ >.

CONTOS

ERNESTO, Luciene (2017): Existência. Em: RevistaRaimundo (Ed. Nebulosa). Em: <http://www.revistaraimundo.com.br/9/la-z_p.php >.

ERNESTO, Luciene (2017): Contato. Em: <http://brasil2408.com.br/index.php/2018/01/19/conexao-conto/&gt;.

VÍDEOS

UNIVESP (Youtube). Fala, Doutor – Mário Augusto Medeirosda Silva: A descoberta do insólito (29 min).

UNIVESP (Youtube). Fala, Doutor: Ana Flávia MagalhãesPinto – Literatos negros, racismo e cidadania (29 min).

Saki Mafundikwa – TED (Palestra – legendada): Criatividadee elegância nos alfabetos africanos antigos (8 minutos).

Ron Eglash — TED (Palestra – legendada): sobre os FractaisAfricanos (17 minutos)..

Autora Nnedi Okorafor – TED (Palestra – legendada).: Sci-fistories that imagine a future Africa/ Histórias de ficçãocientífica que imaginam uma África futurista (9 minutos).

BBC: The Lost Libraries of Timbuktu/As últimas livrarias deTimmbuktu – Youtube – legendada (60 minutos).

______________ (vídeo). Sudão guarda pirâmides dadinastia de faraós negros dos reinos da Núbia. Disponívelem <http://g1.globo.com/fantastico/quadros/A-Jornada-da-Vida/noticia/2017/10/sudao-guarda-piramides-da-dinastia-de-faraos-negros-dos-reinos-da-nubia.html >.

FILMOGRAFIA*(apenas como referência de pesquisa)

SPACE IS THE PLACE. EUA. Duração: 83 minutos. Diretor:John Coney. Considerado marco do afrofuturismo no cinemaamericano.PUMZI. Quênia. Duração: 23 minutos. Diretora: Wanuri Kahiu.A NEGAÇÃO DO BRASIL. Brasil. Duração: 90 minutos.Diretor: Joel Zito.

1 – Tradução de um antigo livro sagrado indiano (trecho).Para saber mais, consulte a obra Racismo & Sociedade(Referências).

2 – Carlos Machado – Cientistas e inventores negros. (RevistaRaça, 2018), e 20 inventores negros de tecnologia.(Inspiração negra, blog, 2018)

3 – Sociedade de Intercâmbio Brasil-África, fundada em 1974.

4 – Movimento Unificado Contra a Discriminação Racial, edepois, Movimento Negro Unificado (MNU), nacional,fundada em 1978.

5 – Instituto de Pesquisa das Culturas Negras, fundado em1975.

6 – Centro de Cultura e Arte Negra

7 – Centro de Estudos Brasil-África, fundada em 1975.

8 – Visite o Museu Afro Brasil/SP -http://www.museuafrobrasil.org.br/

Versão digital -https://artsandculture.google.com/partner/museu-afro-brasil

9 – Muitos dos citados na primeira lista fazem, também, partedesta. E há outros e outras por aí…

10 – Publicação literária anual e nacional que reúne aprodução de vários autores e autoras negros.

11 – Jornal Versus (artigos e números onlines, ver seçãoAcervo Digital).

12 – Geração Mimeógrafo – não faz parte da concepção deliteratura marginal exposta aqui, que é real, fora dasociedade e distante do “aceite literário do cânone”.

13 – Quarto de Despejo – o diário de uma favelada (1960),Casa de Alvenaria, diário de uma ex-favelada (1961),Pedaços da Fome e Provérbios, e póstumos: Diário deBitita, Meu estranho diário (1996), Antologia pessoal (1996)e Onde Estaes Felicidade (2014). A maior parte de seusescritos inéditos se encontram na Biblioteca Nacional (RJ),Arquivo Público de Sacramento (MG) e também há escritosna Biblioteca do Congresso (EUA).

14 – O afrofuturismo afroamericano produz tanto músicas parao mercado quanto experimentais. E na internet você encontraSun Ra Arkestra, Janelle Monae, Ethiopia Ringaracka, LauraMvula, Ellen Oléria, Xênia França e outr x s.

15 – Consulte as referências para acessar mais informaçõessobre Afrofuturismo no Brasil.

16 – Obras afroamericanas em português: Quem teme amorte e Bruxa Akata (Nnedi Okorafor), Kindred – Laços desangue (Octavia Butler), e A Quinta Estação (N.K. Jemisin).

17 – Nome popular do cinema independente nigeriano(Nigéria, África).

18 – Obras de ficção científica e fantasia protagonizadas porpessoas negras em enredos onde a cultura e herançaafricana são o núcleo, ao mesmo tempo que refaz opensamento e demonstra que protagonismo é para pessoasnegras, tanto na ficção quanto na vida real.

19 – Debates, oficinas, visitas em colégios, eventos, artigos,contos, etc.

20 – Homenagem e lembrança. Espero que meus colegasautores gostem.

APOIADORESMuito obrigada a todas e todos por acreditar nestaobra e sua autora. 

***

Aline da Silva Costa

Ana Lúcia Merege

Ana Maria santeiro

Ana Paula de Souza

Ana Rusche

André Colabelli Manaia

Barbara Morais

Beatriz Santos – Mario M. Felix

Bruna Gnadt

Camila de Sousa Vieira

Camila Fernandes

Camila Pinho da Rocha

Camila Villalba

Carolina Rodrigues de Souza

Denise Frare Flaibam

Diego Furtado

Domenica Cristina Mendes

Eduarda Kali de los Santos

Eric Novello

Erika da Silva Santana

Fabio de Mello Rodrigues

Fábio Fernandes

Felipe Alves

Felipe Pereira

Felippe Lima Katan

Fernanda Nia

Flavia Bolaffi

Francis dos Santos

Gabriela da Costa Silva

Giovana Damaceno

Gleice Pinto

Gustavo Garcia Nogueira

Henrique Silva da Costa

Ione Mattos

Iris Figueiredo

Iracema Souza Morato

Janayna Bianchi Pin

Jayne Oliveira

João Paulo Simões

João Victor Burgos Fernandes

Joceline Gomes Silva

Jorge Dos Santos Valpaços

Jorge Pereira

Julian Vargas do Amaral

Juliana Aparecida de S. Guilherme

Juliana Berlim

Kamilla Baes

Karol Rodrigues

Katia Gilaberte

Larissa da Costa Barboza

Larissa Siriani

Leo Oliveira

Livia Maria R. Rosa

Maiara Alice Gomes de Oliveira

Marcial Marques

Maria Rosa Fontebasso

Maria Valéria Rezende

Marilia Aiko Kubota

Marilia Ramos

Marissel Maruca Hernández

Marta Barcellos

Michel Murta Peres

Paulo Galian

Paulo Vinicius F. dos Santos

Pétala Souza

Petê Rissatti

Priscilla Lhacer

Renata Oliveira do Prado

Risla Miranda

Rosana Rios

Sabrina Paixão

Santiago Santos

Silvana Márcia Schilive

Socorro Alencar Nunes

Susana Ventura

Valquíria Cordeiro

Vanessa Ratton

Waldson Gomes de Souza

Yuri Costa

Este é só o começo.

Não sei como, mas vez ou outra, voe, voe alto e semdestino.

Esse é o meu jeito de contar histórias.

Só pode ser eterno, o que vale a pena ser lembrado.

Faça magia com suas palavras.

Permita-se desafiar as possibilidades.

Não detenha seus sonhos, adie-os, mas não osperca de vista.

Arrisque um salto no desconhecido….

Meus passos, meu caminho, minha jornada.

Conteste, construa, comece…

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Não sei como, mas vez ou outra, voe, voe alto e semdestino

Esse é o meu jeito de contar histórias

Só pode ser eterno, o que vale a pena ser lembrado

Faça magia com suas palavras

Permita-se desafiar as possibilidades

Não detenha seus sonhos, adie-os, mas não osperca de vista

Arrisque um salto no desconhecido…

Meus passos, meu caminho, minha jornada

Conteste, construa, comece…

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